INESQUECÍVEL

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MOMENTOS

sábado, 14 de maio de 2011

Poema macabro (Vera Cavalcante)




Já cheira mal o cadáver das minhas lembranças.



Ainda não enterrei e o vejo se deteriorar, desmanchando-se a cada ação, palavras e silêncio.

Não quero nem mais tocá-lo, mas não sei como interá-lo. Seu odor incomoda e o quero ignorar.

Mas, outra vez volto a lembrar mesmo quando cheira mal o cadáver das minhas lembranças.

A ilusão se despiu e mostrou-se tal qual é, mas, as lembranças persistem em um inerte cadáver a se degenerar.

Jogo nele a distância que o cobre sem refutar por um período de tempo, mas, volta a se mostrar e emerge sem avisar.

O silêncio é a minha estratégia para fazê-lo recuar esperando que na profundeza dele mergulhe e não volte a incomodar. Nada parece funcionar...

Então tento a indiferença cobrindo-o com panos pesados tentado não enxergar, aquieta-se um pouquinho, mais, logo reaparece e volta a assombrar.

Como posso enterrar se ainda inspira odores o cadáver das minhas lembranças?



2 comentários:

avelino ferreira disse...

Luta interior..pesadêlo..

Poetisa Negran disse...

As imagens do poema são belíssimas... Tem-se um eu lírico em deformação, ao contrário da máxima já comum "bildungsroman" mui belo poema!