A Orquídea da Noite

Desperta em meio à madrugada, abre cada uma de suas pétalas exóticas e belas exalando o suave odor da paixão... e sai.
Sorrateiramente abandona o jardim da sua estável existência e desliza suavemente na noite ao encontro de tenros amores que se evaporam aos primeiros raios de sol que desponta ao amanhecer.
Nos instantes de existência no caloroso afago a flor quase se esquece de onde há haviam plantado.
Mas, retorna ao seu canteiro e novamente volta a plantar suas raízes no solo e promete às convenções e a si mesma embalar-se com o vento, sentir o calor do sol,fincar raízes profundas e do solo mais profícuo o seu sustento alcançar.
Mas, ao chegar a penumbra quando a lua bela desponta, a orquídea se inquieta,remexendo-se em seu ser na agonia profunda de acordar para a noite e nela voltar a nascer.
Lembra de afetos e afagos, do querer aprisionado e quase tende a sair exalando o seu perfume que encanta e confunde aos amantes do exótico que ousam se arriscar.
Escolhe ser agora uma singela flor do dia. Joga fora os alentos, faz calar as emoções sossegando os apelos que aperta o seu coração.
Escolhe a comodidade, aquieta a ansiedade, pois, não pretende procurar.
Resolveu se encontrar dentro do seu jardim. Vai cuidar do seu solo, suas pétalas, suas folhas, enquanto se põe a esperar.
Espera por uma borboleta que seja da noite e do dia, em cores de violeta, ou na excentricidade do Black, com voracidade no voar e impetuoso ao pousar.
O encontro se fará no jardim primaveril, mas de modo excepcional, pois finalmente o flor da noite com sua peculiar beleza encontram a quem lhe encante.
Nesse encontro casual e quase imperceptível do lindo claro do dia com o fascínio da noite dentro desse linear.
Dessa forma pensá-se então, que finalmente a orquídea não mais se arriscará em sair do seu abrigo em busca de se encontra de saciar sua ânsia, sua essência, sua ausência nessa dança que antecede o ato de acasalar.

VERA CAVALCANTE